Ceará fortalece a agenda nacional de impacto no Congresso GIFE 2025
O 13º Congresso GIFE, realizado em Fortaleza, destacou o protagonismo do Ceará no futuro da filantropia e dos negócios de impacto no Brasil. Com o tema “Desconcentrando Conhecimento, Poder e Riqueza”, o evento reuniu vozes do território que defenderam uma filantropia mais corajosa, participativa e enraizada nas realidades locais.

Entre os dias 7 e 9 de maio, o 13º Congresso GIFE reuniu em Fortaleza nomes fundamentais do investimento social privado (ISP), da filantropia e dos negócios de impacto do Brasil. O evento trouxe o tema “Desconcentrando Conhecimento, Poder e Riqueza”, e o Ceará respondeu com protagonismo e densidade nas discussões.
Empreendedores sociais e articuladores locais estiveram presentes em mesas estratégicas do congresso, trazendo contribuições valiosas sobre ecossistemas de impacto, inclusão produtiva, filantropia territorializada e governança participativa.
O futuro da filantropia com identidade e intencionalidade – Ticiana Rolim
Na mesa “Os próximos 30 anos do ISP e da filantropia no país”, Ticiana Rolim destacou a importância de uma filantropia com identidade territorial e foco em impacto sistêmico. Compartilhou aprendizados à frente da Somos Um e de iniciativas como o ENIMPACTO e o Zunne, que visam expandir o acesso ao capital para empreendedores de grupos historicamente sub-representados. Ticiana também provocou reflexões sobre a urgência de filantropias mais corajosas, que assumam riscos junto aos empreendedores de base e fortaleçam ecossistemas locais, especialmente no Nordeste.
Vozes do território: Joaquim Melo e o papel das finanças comunitárias
No painel “A escuta do território como vetor democrático de transformação social”, Joaquim Melo, fundador do Banco Palmas, falou sobre o poder das finanças comunitárias na reconstrução de economias locais. Enfatizou como a escuta ativa das necessidades populares é elemento central para o desenho de soluções financeiras eficazes, como bancos comunitários e moedas sociais. Sua fala reforçou a necessidade de repensar o papel das instituições financeiras tradicionais e de valorizar modelos protagonizados por comunidades organizadas.
Governança participativa: um pilar para ecossistemas sustentáveis – Manu Oliveira
A empreendedora cearense Emanuelly Oliveira, fundadora do Social Brasilis, integrou a mesa “Governança participativa no fortalecimento de ecossistemas de impacto”, organizada pelo ICE. Sua fala trouxe exemplos concretos da construção de redes de apoio entre empreendedores periféricos e defendeu a governança participativa como prática essencial para que políticas públicas e investimentos reflitam as reais necessidades dos territórios. Manu ressaltou o desafio da descentralização de poder nas tomadas de decisão e a importância de estratégias que coloquem as juventudes e as periferias no centro do debate.
Filantropia e impacto com foco local: Mônica Fernandes e o gesto simbólico de Bia Fiuza
Na mesa “O estado da arte da filantropia e do ecossistema de impacto no Ceará – Fortalezas e desafios”, duas lideranças do estado debateram o avanço e os gargalos da atuação local.
Mônica Fernandes, da Empoderar-te, trouxe à tona os desafios da inclusão produtiva de mulheres das classes populares e o papel da filantropia em apoiar negócios de impacto com recorte de raça, classe e gênero. Ela reforçou que a sustentabilidade dos empreendimentos periféricos depende de investimentos que levem em conta os contextos de desigualdade histórica e destacou a Coalizão pelo Impacto de Fortaleza como mecanismo de fortalecimento do ecossistema local
Bia Fiuza, com ampla trajetória em governança e desenvolvimento institucional, abordou a importância de estruturas de apoio permanentes às iniciativas, e da capacidade da filantropia de assumir riscos. Apontou também caminhos para uma filantropia mais relacional e menos verticalizada.
Ao final de sua fala, Bia protagonizou um gesto que emocionou a plateia e materializou a própria essência do congresso: convidou ao palco uma jovem que começou como auxiliar de serviços gerais e hoje participar da coordenação do Instituto de Música Jacques Klein, organização da qual Bia é diretora. Ao chamar a jovem para ocupar o palco, Bia desceu do palco e se sentou na plateia. O gesto, simples e potente, dando espaço de fala para uma voz dos territórios.
Um marco simbólico e estratégico
O Congresso GIFE 2025 marcou mais do que um encontro — foi um reconhecimento explícito de que os saberes e soluções dos territórios do Norte e Nordeste são cruciais para pensar o futuro do ISP e dos negócios de impacto no Brasil.
A presença articulada de nomes como Ticiana Rolim, Joaquim Melo, Emanuelly Oliveira, Mônica Fernandes e Bia Fiuza evidencia que o Ceará tem liderado um novo ciclo, pautado pela escuta, pela justiça social e pela ação coletiva.
Por Mônica Fernandes dos Santos.